sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Imigrantes e descendentes mantêm tradições japonesas em Atibaia, SP



Imigrantes e descendentes mantêm tradições japonesas em Atibaia, SP
Cidade conhecida pela produção de flores se desenvolveu com a imigração.
Culinária, arte e ensinamentos são repassados para novas gerações.



Nicole Melhado Do G1 Vale do Paraíba e Região
Facebook
Twitter
Google+
Pinterest
Cultura japonesa é preservada pelas famílias e Centro Cultural em Atibaia (Foto: Nicole Melhado/ G1 e Divulgação)

Com cerca de 1.500 famílias de origem japonesa, a cidade de Atibaia, na região bragantina, é uma das maiores colônias japonesas do estado de São Paulo. A preservação da cultura, gastronomia e, sobretudo, dos valores nipônicos estão presentes na vida dos descendentes e na cidade.

Os primeiros japoneses chegaram à região na década de 1930, atraídos pela oportunidade de adquirir terras para cultivar hortaliças e flores. Atualmente, apenas a cidade de Atibaia é responsável pela produção de 23% de toda a produção nacional de flores. No último ano, a Festa de Flores e Morangos, evento tradicional na cidade, atraiu 120 mil visitantes ao município.
Família Oikawa cultiva flores em Atibaia desde
1973 (Foto: Nicole Melhado/ G1)

Na propriedade da família Oikawa, a produção anual chega a 4,3 milhões de hastes de flores - apenas de rosas são 2,3 milhões de unidades. A área tem 16 hectares e 60 funcionários. O cultivo começou com o patriarca da família, Kimio Oikawa, em 1973. Natural de Iwate Ken, nordeste do Japão, Kimio chegou ao Brasil em setembro de 1959, trazendo a esposa Toko.

“Um vizinho do meu patrão em Tóquio me falou sobre o Brasil. Vi no Brasil uma oportunidade de trabalhar com honestidade e me estabilizar. Quando embarcamos já não pensava em voltar, mesmo porque não sabíamos se teríamos dinheiro para isso”, contou com o sotaque carregado.

Kimio voltou ao Japão por quatro vezes, porém sempre a passeio, dando ainda oportunidade aos seis filhos e 11 netos de fazerem o mesmo. A filha Elenice Mie conta que os irmãos buscaram outras ocupações e oportunidades de trabalho, mas quatro deles voltaram a atuar na produção de flores para ajudar na empresa da família. “Cada um acabou encontrando sua vocação, aptidão e administrando um setor. Meu pai nos ensinou que o sol nasce para todos e a vida é feita de oportunidades e trabalho”, disse.

Na casa da família Oikawa, o idioma oficial ainda é o japonês. Pelas paredes, lembranças e na televisão notícias da terra natal. Com um sorriso suave, Kimio San, hoje com 78 anos, afirma que nunca foi um pai rígido, preferiu ser um pai amigo e ensinar por meio de exemplos. Mesmo depois de perder as duas pernas em um acidente, aos 36 anos de idade, ele nunca parou de trabalhar. “Fiquei 18 dias no hospital, quando voltei para casa já voltei ao trabalho. Afinal daqui para cima é tudo normal. Nunca tivemos capital, então o jeito de sustentar a família era através do trabalho”, recordou.
Shugo Izumi e o filho Dai trabalham na arte da
cerâmica (Foto: Nicole Melhado/ G1)

Tradição
Na família Izumi, a arte e o trabalho também são passados de uma geração a outra. Em uma atividade manual que necessita de concentração e habilidade, são produzidas cerca de 2 mil peças de cerâmica por mês, entre utensílios e objetos decorativos.

O desenhista Industrial Rafael Dai, de 27 anos, aprendeu com o pai Shugo Izumi, de 65 anos, a arte da cerâmica. “Ele não fala muito, espera que você formule suas dúvidas e a técnica você assimila durante o trabalho”, explica Rafael.

A filosofia oriental de ensino é usada também nas aulas de japonês na Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Atibaia (Acenbra). A professora Mie Kato Yokomizo, que veio ao Brasil pela primeira vez há 8 anos, compreende, mas fala pouco português. Ela utiliza atividades de pintura, origami e até gastronomia para ensinar o idioma não só aos descendentes, mas aos admiradores da cultura asiática.

“Somente o estudo do idioma não é suficiente. Como poderia explicar o que significa a palavra ‘gostoso’, por exemplo, sem que os alunos experimentassem essa sensação?”, diz Mie Kato.

Música
No Centro de Cultura Japonesa de Atibaia, que conta atualmente com quase 400 sócios, os alunos ainda têm contato com o esporte e a música. O grupo de taikô Kawasuji Seiryu Daiko foi campeão brasileiro em 2005, na Categoria Junior, e representou o Brasil em uma competição no Japão. Ao todo são 70 integrantes em quatro sub-grupos.

Aos alunos, o jovem mestre Jun Aoyama, de 26 anos, transmite os conhecimentos sobre o instrumento de guerra utilizado há mais de 2 mil anos. “Mais do que isso repassamos valores como humildade, respeito e educação ao grupo”, salienta o nissei.